A terceira edição da Expo Favela Minas aconteceu nos dias 18 e 19 de julho, na sede do Sebrae, em Belo Horizonte. O evento, promovido pela CUFA Minas em parceria com o Sebrae, reuniu mais de 8 mil visitantes e recebeu mais de 3 mil inscrições de empreendedores de todo o estado. Desses, 125 foram selecionados para expor seus negócios, gerando uma movimentação estimada em R$ 6 milhões em transações diretas e indiretas.
A feira teve como foco principal conectar os talentos das favelas e periferias com investidores, empresas, instituições e poder público. Com uma extensa programação, incluindo painéis, workshops, mentorias, rodadas de negócios e atividades culturais, a Expo reafirmou sua proposta de promover inclusão social, desenvolvimento econômico e reconhecimento das potências criativas das comunidades mineiras.
Venda Nova teve participação expressiva e protagonismo entre os selecionados, com empreendedores que se destacaram em diversas categorias da feira. A Creare Design, do bairro Juliana, comandada por Weuler e Rafaela, levou inovação e representatividade ao lançar o livro de colorir “Bobbie Goods da Quebrada”. O produto traz ilustrações inspiradas no cotidiano das favelas de Belo Horizonte, com traços e personagens que dialogam com a realidade da periferia. O lançamento foi um sucesso imediato, esgotando em tempo recorde durante o evento. Além da originalidade, a iniciativa chamou atenção pelo impacto social e educativo do produto, que busca valorizar a identidade cultural das comunidades.
O Melanina Studio, da empreendedora Tayana Glécia, também levou uma proposta inovadora para a feira. Especialista em estética afro capilar, Tayana criou o perfume capilar “Lofinda”, um produto vegano pensado para o cuidado diário dos cabelos crespos e cacheados. A fórmula leve, hidratante e de uso contínuo foi desenvolvida para promover bem-estar e autoestima. O sucesso da proposta garantiu ao Melanina Studio um lugar entre os 15 melhores empreendimentos da Expo. Tayana destacou a importância de produtos voltados para as necessidades reais da população negra e periférica, aliando cuidado, identidade e sustentabilidade.
Entre os nomes mais inspiradores da feira estiveram os Irmãos Fot, Ricardo e Romário, moradores do bairro Rio Branco. Com deficiência visual desde os 9 anos, em razão da síndrome do olho de gato, os dois construíram uma trajetória reconhecida no Brasil como palestrantes motivacionais. Na Expo Favela Minas, eles lançaram o livro “Coisas que os olhos não veem: como enfrentar desafios, ter perspectivas e sonhos”, que ficou em segundo lugar no prêmio Favela Literária. A obra trata de superação, disciplina, redes de apoio e resiliência, mostrando como a vivência dos irmãos se transformou em ferramenta de conscientização e transformação social.
A primeira colocação no troféu Favela Literária também foi conquistada por representantes de Venda Nova. A artista visual Iasmin Ellen, moradora da favela Mães dos Pobres, no bairro Piratininga, e a estudante Ana Luisa Figueiredo, ambas da UFMG, escreveram o livro “As fases da Lua”. A história acompanha Lua, uma menina negra e surda de 12 anos, que enfrenta as transformações do corpo e os desafios de crescer em uma comunidade surda. A proposta tocante e educativa valoriza a diversidade e promove reflexões sobre inclusão e adolescência. Iasmin também é intérprete de Libras, ilustradora e integra o coletivo artístico Apapozé.
Outro destaque de Venda Nova foi a pequena Iasmin Lisboa, de 11 anos, conhecida como Iaiá Lisboa. Moradora do conjunto Minas Caixa, Iaiá participou do painel Geração Impacto, espaço voltado a crianças e adolescentes que usam a arte como instrumento de mudança. Durante o evento, ela pintou uma tela representando a realidade das comunidades de Minas Gerais. A obra, feita ao vivo, foi vendida ainda no local e chamou atenção pela sensibilidade e força expressiva da artista mirim. Para Iaiá, a arte é uma forma de empoderamento, educação financeira e desenvolvimento pessoal.
Fechando o grupo de representantes de Venda Nova, a marca Kodara foi um dos grandes destaques da Expo Favela Minas 2025. Com forte identidade cultural, a marca de roupas trabalha com elementos da arte urbana e da resistência periférica. Fundada na região, a Kodara se posiciona como um movimento que utiliza a moda como ferramenta de transformação social. Durante a feira, a marca foi selecionada entre os cinco melhores empreendimentos e, agora, terá a responsabilidade de representar Minas Gerais na Expo Favela Brasil, em São Paulo, no mês de novembro. A conquista reforça o potencial de iniciativas criativas e engajadas nas periferias mineiras.
Inclusão e transformação
A secretária de Desenvolvimento Social de Minas, Alê Portela, destacou durante o evento a importância de programas como Comunidade Empreendedora e Trajeto Moda, que fortalecem o ecossistema empreendedor das favelas. Para Marciele Delduque, diretora da CUFA Minas, a Expo Favela Minas tornou-se uma agenda permanente no estado. Os resultados positivos da edição 2025 confirmam a força dos negócios periféricos e reafirmam o papel da feira como plataforma de oportunidades reais para quem transforma o cotidiano com criatividade, resistência e trabalho.
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