“Lideranças de ocasião” usam serviços públicos como vitrine em Venda Nova

Em muitos casos, esses indivíduos não apresentam propostas coletivas

27/10/2025 11h40 - Atualizado há 1 semana

Um fenômeno tem se intensificado em Venda Nova: cresce o número de pessoas que se apresentam como “lideranças comunitárias”, mas que atuam de forma isolada, sem vínculo com associações de bairro, conselhos ou movimentos sociais locais. Em muitos casos, esses indivíduos não apresentam propostas coletivas. Em vez disso, concentram-se em pedidos pontuais de serviços básicos, como troca de lâmpadas, tapa-buracos, poda de árvores, capina de lotes e sinalização de trânsito: tarefas rotineiras e já na pauta de realizações da Prefeitura de Belo Horizonte.

Chama ainda mais a atenção o fato de que, muitas vezes, o foco dessas ações parece não ser a comunidade, mas a produção de conteúdo para redes sociais. Ao divulgar os serviços, algumas dessas figuras acabam passando a impressão de que solucionaram os problemas do bairro e tentam se associar à imagem de gestores públicos ou de “resolvedores de problemas”. Esse tipo de prática pode acabar distorcendo o papel das verdadeiras lideranças e enfraquecendo o debate sobre melhorias estruturais em Venda Nova.

As solicitações feitas por esses nomes costumam ser registradas pelos canais oficiais da Prefeitura, acessíveis a qualquer cidadão. Ainda assim, quando atendidas, se transformam em fotos, vídeos e postagens com frases como “mais uma conquista” ou “seguimos lutando pelo nosso povo”.
Vale lembrar: em Venda Nova, qualquer pessoa pode solicitar atendimento direto à Prefeitura, sem intermediários. Os canais oficiais são o telefone 156, o aplicativo PBH APP e o portal servicos.pbh.gov.br. O protocolo é gratuito e pode ser acompanhado em tempo real.

Quando o serviço vira autopromoção

A facilidade de acesso aos serviços contrasta com a postura passiva de parte da população. Essa apatia pode abrir espaço para quem se apresenta como mediador, mas talvez esteja apenas aproveitando a omissão coletiva para ganhar visibilidade.

Em alguns casos, essas “lideranças” já participaram de disputas eleitorais e não tiveram sucesso nas urnas. Agora, estariam tentando se recolocar, usando a exposição de serviços corriqueiros como estratégia para ganhar espaço antes do período oficial de campanha?

Representam quem?

A liderança comunitária, de fato, exige envolvimento com conselhos locais, associações de bairro e articulação com os moradores. Representa demandas coletivas e acompanha de perto as ações que impactam toda a região.

Mas o que fazer quando certas lideranças não apresentam plano, diálogo ou agenda pública? Quando atuam apenas com pedidos pontuais e constante exposição pessoal? Em alguns casos, Venda Nova parece se tornar cenário, e o serviço público, parte de uma narrativa de promoção individual.

Dados em comunicação política indicam que essa lógica favorece o personalismo e o clientelismo. Em vez de fortalecer a cidadania, pode estimular a dependência: o morador passa a acreditar que precisa de um “ajudante do bairro” para ser ouvido.

Olhar atento da Justiça Eleitoral

A legislação é clara ao proibir campanha antecipada. Mesmo assim, o uso de canais públicos para autopromoção, sem pedido explícito de voto, muitas vezes passa despercebido pela fiscalização. Seria essa uma forma velada de campanha?

O Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) já tem observado casos assim. O risco é o enfraquecimento dos canais institucionais e da participação democrática. Quando a população é levada a depender de um “representante informal”, o espaço público se converte em palco pessoal — e a coletividade perde força.

Em Venda Nova, talvez seja hora de redobrar a atenção. A cidadania ativa começa pelo uso direto dos canais públicos e pela recusa a práticas que priorizam interesses individuais em detrimento do bem comum.

 

 


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